Postagens

Uma história pessoal da Guerra Fria fora do centro é possível? Flavio M. Heinz

Imagem
  Em meio a dificuldades para, em aula, oferecer exemplos concretos sobre o ambiente social e político da Guerra Fria a estudantes brasileiros nascidos nas duas últimas décadas, lembrei-me de três episódios que marcaram a mim ou a minha família e que estão associados aos desdobramentos da Guerra Fria na América do Sul.    (1) O primeiro, bem anterior ao meu nascimento, constituiu-se numa história omnipresente do romance familiar ao longo de décadas: o “exílio interno” que minha família materna havia experimentado no nordeste do país, na segunda metade dos anos 1940, uma espécie de punição oficiosa ao ativismo político de meu avô.   Em 1945, o Partido Comunista vivia sua breve experiência de legalidade institucional, ainda sob a ditadura do Estado Novo. Meu avô era, à época, coletor federal em Encantado (RS), talvez o emprego público mais bem remunerado nas cidades do interior do Brasil. Abertamente comunista, e exercendo um cargo estável da administração, foi 'agraciado' pe

PATRIOTAS SEM FRONTEIRAS: RUMO A UMA HISTÓRIA ATLÂNTICA DO RISORGIMENTO DURANTE A ERA DAS REVOLUÇÕES, por Alessandro Bonvini

Imagem
Publicado originalmente por Age of Revolutions, em 05/4/20121:   https://ageofrevolutions.com/2021/04/05/patriots-without-borders-towards-an-atlantic-history-of-the-risorgimento-during-the-age-of-revolutions/   Em 23 de junho de 1848, Giuseppe Garibaldi embarcou para Nice com Andrea Aguyar, um ex-escravo negro do Uruguai, para participar da Primeira guerra de independência italiana. Aguyar era membro de um batalhão de recém libertos e lutara ao lado do “herói de dois mundos” no grande cerco de Montevidéu (1843-1851). Uma vez na Itália, Aguyar seguiu Garibaldi nas batalhas de Luino e Mortazzone (na região da Lombardia, ao norte), até que uma granada o feriu mortalmente, em 30 de junho de 1849, quando lutava pela República romana.[1]                                                          Mapa da Itália mostrando a primeira e a segunda fase da Guerra de independência italiana. (Março-Agosto de 1848) A aventura patriótica que reuniu o condottiero (general) italiano e o soldado ur

As Américas, comércio armado e energia barata: resenha de “A Grande Divergência”, de Kenneth Pomeranz, por Branko Milanovic

Imagem
  Postagem original:  https://glineq.blogspot.com/2018/09/the-americas-armed-trade-and-cheap.html Sim, estou 18 anos atrasado. Eu li muito sobre a “Grande Divergência” de Pomeranz, tanto resenhas elogiosas quanto críticas, artigos que continuaram em seus passos e outros que não, mas não li o livro original. Por isso resolvi corrigir a omissão no final deste verão. É um ótimo livro. E não surpreende que tenha se tornado famoso. Apresenta o que era então (ano 2000), uma visão amplamente nova sobre as causas da Grande Divergência, prova metodicamente, uma a uma, a insuficiência de todas as outras explicações plausíveis e apresenta um caso logicamente tenso e convincente para sua própria hipótese. Essa hipótese é agora tão conhecida que vou apenas sboça-la aqui nos termos mais breves possíveis. Pomeranz argumenta que por volta de 1750-1800 a Europa Ocidental, China e, em menor medida, a Índia estavam nos mesmos níveis de desenvolvimento em todos os aspectos relevantes que poderiam te

4 LIÇÕES EXEMPLARES DA REVOLUÇÃO FRANCESA PARA OS DIAS ATUAIS, por Christine Adams

Imagem
Publicado em Age Of Revolutions em 22/01/2021: https://ageofrevolutions.com/2021/01/22/4-cautionary-tales-from-the-french-revolution-for-today/ Este artigo é o resultado de uma palestra proferida na Newberry Library em 15 de janeiro de 2021. https://www.youtube.com/watch?v=eE23Uc7Fe4Y&feature=youtu.be                                                            O c erco do Palácio das Tulherias, 1792 .  Muitos americanos podem ficar tentados a interpretar a posse de Biden como a abertura de um novo capítulo, e de muitas maneiras é, mas devemos permanecer alertas para o extremismo que persiste nos Estados Unidos. Na esteira dos violentos ataques ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, os historiadores se apresentaram para oferecer maneiras de pensar sobre esses eventos. Valendo-se de suas próprias áreas de especialização, eles olharam para o passado como uma forma de compreender as tensões desse momento particular. Aqueles que não conseguem se lembrar do passado não estão c

VERMELHO, BRANCO E SANGUE: O TERROR BRANCO E O GRANDE MEDO, 1789-2021, por Beatrice de Graaf

Imagem
  Publicado por Age of Revolutions (ageofrevolutions.com / @AgeofRevs), em 15/01/2021 O “Terror branco” sempre foi o irmão gêmeo do “terror revolucionário” ou “terror vermelho”. Desde a Revolução Francesa, a história moderna testemunhou um desfile efervescente de rebeliões, insurreições, insurgências e golpes - mas eles quase sempre vieram aos pares, como, por exemplo, com o terror revolucionário (contra regimes feudais e autoritários) e o terror branco, violência contrarrevolucionária dirigida contra os supostos ativistas e dissidentes revolucionários (ou socialistas, após 1917). Aplicar essa dicotomia de terror à atual onda de insurreições (nos Estados Unidos e em outros lugares) nos ajuda a colocar sua dinâmica em um contexto histórico mais amplo. Com a “ameaça vermelha” enraizada na memória coletiva e nacional americana, é fácil esquecer que, para os europeus, o “terror branco” sempre foi, como política de vingança, o parceiro natural para ocorrências de “revoluções vermelhas”. O